
Lisandro Vieira, especialista em comércio exterior, diz que novos hábitos de consumo impactam cadeias de produção e economia dos países
Consumir itens como carros, alimentação, filmes, música e transporte na forma de serviços já é uma realidade em quase todo o mundo graças à tecnologia. É a chamada economia baseada em serviços e intangíveis, que usa aplicativos como plataforma. Para o CEO da WTM International e especialista em comércio exterior, Lisandro Vieira, o Brasil ainda não se atentou para importância dessa revolução e precisa de mudanças rápidas para não ficar para trás e perder competitividade.
Essa transformação nos hábitos de consumo ocorreu de maneira tão natural que muitos sequer se deram conta, mas ela tem profundos impactos no desenvolvimento dos países. “No Brasil nós, enquanto nação, não enxergamos a situação, o que tem impedido que a transformemos em oportunidade”, afirma.
Caso isso não mude, ele diz que estaremos condenados a ter um déficit cada vez maior em nossa balança de exportação e importação de serviços. “É preciso haver um esforço por parte de cada um dos envolvidos – governo, empresas, universidades, entidades setoriais e profissionais – para virarmos esse jogo.”
De acordo com Vieira, o consumo de bens intangíveis – como softwares e aplicativos – tem o poder de desmaterializar as cadeias produtivas, o que pode levar à redução ou até mesmo à extinção de materiais, até então consumidos em larga escala.
Ele cita como exemplo um escritório de vinte ou trinta anos atrás: “Havia telefone fixo, jornais, revistas, livros, calendário, fax, agenda telefônica, mapas, calculadora, bloco de anotações e uma série de outros itens que hoje podem ser encontrados facilmente em um celular, computador, TV ou até geladeira”.
Mudança de mentalidade
A mudança nos hábitos de consumo levou à criação das chamadas empresas transnacionais, que revolucionaram seus nichos de mercado, como Netflix, Uber, AirBNB e Spotify. Para Lisandro Vieira, os dados comprovam que o Brasil está ficando para trás. Em 2022, a receita brasileira de exportação de serviços foi 24 vezes menor que a dos Estados Unidos. Ele acredita que é preciso haver uma mudança de mentalidade de todos que fazem parte do ciclo econômico.
“Em relação ao governo, é urgente a melhoria do ambiente de negócios e a simplificação da tributação, principalmente em relação à renda e ao consumo. Essas são medidas essenciais para o País, já que a complexidade tributária é um dos principais obstáculos para os exportadores de serviços e intangíveis.”
As universidades também podem fazer a sua parte ao incluir este tema em suas grades curriculares e adaptar os programas de estudo. Ele diz que as entidades setoriais, por sua vez, devem compreender a relevância de expandir a oferta de serviços para mercados internacionais, considerando aspectos comerciais, financeiros e estratégicos.
Sobre as empresas brasileiras, o CEO da WTM International ressalta que apenas 1% delas exporta, e que se faz necessário ampliar os horizontes para além do mercado nacional. Por fim, o executivo lembra o papel também dos profissionais do setor de tecnologia: é fundamental agir e pensar de maneira mais integrada ao contexto global, a fim de aproveitar ao máximo as oportunidades que o mercado internacional oferece. “Precisamos vencer o mindset local e abrir nossa visão para um mindset global.”
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