Para Marcelo Zuffo, diretor do Centro de Inovação InovaUSP, o Brasil tem o cenário perfeito para se tornar um grande produtor de semicondutores: temos minerais (especificamente terras raras), água em abundância, energia renovável, demanda e até tradição, já que o País foi o primeiro da América do Sul a desenvolver chips já na década de 1970, antes até da China e da Coreia do Sul.
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O segredo para esse mercado decolar está nos chips abertos, segundo o diretor. De acordo com ele, microprocessadores de código aberto não contam com propriedade intelectual e podem ser usados em plataforma de baixa performance, como dispositivos de Internet das Coisas (IoT) e drones. “São chips de 32 ou 64 bits que não deixam em nada a desejar para processadores de entrada.”
A Universidade de São Paulo (USP) já vem sintetizando chips de código aberto com sucesso, estando na quarta geração da tecnologia. Zuffo acredita que esse produto poderia dar ao Brasil 20% do mercado global de chips, principalmente pela demanda interna, já que temos um déficit de US$ 50 bilhões na balança comercial de semicondutores, o quinto maior do mundo.
Para criar essa indústria, será necessário desenvolver uma cadeia industrial complexa, que precisa de insumos estratégicos, pessoas capacitadas e ambiente estável. Tudo isso é possível, segundo Zuffo, porque o Brasil já é o maior empacotador de chips fora da Ásia, com diversas fabricantes que poderia usar esse conhecimento como plataforma para expansão da indústria.
“O Brasil tem que se inserir em cadeias globais e virar exportador. O Brasil exporta avião, pode exportar chip”, afirma o especialista. Ainda segundo ele, com um mercado qualificado e o modelo de negócios fechado, a implantação de uma fábrica dessa levaria em torno de 18 meses.
O que falta para isso vai além do governo. “Os países que colocaram todas as suas fichas no governo deram errado também. Falta a indústria brasileira perceber que pode ganhar dinheiro com isso”, finaliza.
Hora da mudança
O painel “Política de semicondutores: fomento à nova industrialização”, realizado na Futurecom 2024 esta semana, contou com autoridades que trouxeram esperança para o setor nacional de semicondutores. Além de Marcelo Zuffo, diretor do Centro de Inovação InovaUSP, o painel contou com representantes da indústria e do governo.
Guilherme Correa, diretor substituto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), diz que a pasta tem trabalhado para trazer políticas de capacitação e de incentivo, buscando atrair fabricantes, como o exemplo do Padis. Segundo o representante do MCTI, o descontigenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) deve trazer R$ 200 milhões para o setor em 2025.
Augusto Gadelha, CEO da Ceitec, diz que a volta da empresa é uma oportunidade para o País. A Ceitec já teve mais de 50 patentes de semicondutores e chegou a ter 40% do mercado nacional de chips para identificação veicular, já nos anos 2000. Com a volta, o CEO diz que o foco serão os semicondutores de potência, que não usa silício e tem maior eficiência energética, com muito potencial para serem aplicados em carros elétricos.
Já Emilio Loures, diretor de Assuntos Governamentais da Intel, diz que há várias oportunidades ainda que não tenha uma fábrica de chips de dois nanômetros no Brasil. Para ele, a falta de recursos financeiros não pode ser desculpa para investir em semicondutores, pois a pandemia da covid-19 mostrou a dependência do setor de tecnologia dos fornecedores asiáticos. “Tem que usar a experiência para melhorar a resiliência, principalmente sob emergências.”
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