Graças à tecnologia e à transição verde, 23% das ocupações existentes no mundo devem se modificar em menos de três anos e 2% dos empregos atuais deixarão de existir. Promover a inclusão das mulheres na área é cada vez mais urgente.
Por trás da transformação proporcionada pela Inteligência Artificial (IA), que impulsiona a inovação, melhora a eficiência e a produtividade, estão novas oportunidades de empregos. Considerado vital para o crescimento econômico global, o mercado da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) deve injetar na economia brasileira ainda neste ano, cerca de R$ 845 bilhões em investimentos. Os dados são da Associação Brasileira de Empresas do setor, a Brasscom.
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Entre as áreas de maior destaque no setor, a IA continua como a grande aposta deste e dos demais setores. Segundo o estudo Pulse of Change, da Accenture, 85% das companhias consultadas ao redor do globo, fazem planos para aumentar seus investimentos em IA generativa em 2024, com enfoque maior em áreas como atendimento ao cliente, com 55% das preferências, seguido por finanças (45%) e marketing (41%). No Brasil, apesar de 99% dos gestores considerarem que a IA irá transformar os serviços e atividades industriais, apenas 23% afirmaram já fazer investimentos significativos na área.
Seja como for, o mercado de trabalho já é impactado por essa transformação numa velocidade jamais vista. O último relatório “O Futuro do Trabalho”, produzido pelo Fórum Econômico Mundial, diz que 23% das ocupações existentes devem se modificar em menos de três anos. Nesse curto espaço de tempo, espera-se que 69 milhões de novos empregos sejam criados, graças à transição verde e a transformação tecnológica. Apesar disso, 83 milhões de postos poderão ser eliminados, o que corresponde a 2% dos empregos atuais.
“A Inteligência artificial veio para mudar o mercado de forma revolucionária, pois ela potencializa muito mais as entregas e a capacidade de cada trabalhador. Sendo assim, os profissionais que conseguirem dominar esse tipo de tecnologia, serão até 10 vezes mais competitivos do que aqueles que não a dominarem”, afirma Gustavo Santos, CTO da Callface, empresa de tecnologia referência em comunicação por voz em nuvem.
Para Gustavo, a carência de mão de obra especializada não está restrita ao mercado TIC, mas acontece em todas as áreas. Fora o acesso à educação, a questão está relacionada, em parte, com características comportamentais das novas gerações. “Muito mais que a carência de mão de obra especializada, nas novas gerações as mentalidades vão mudando, o que é natural. Atualmente, percebemos cada vez mais profissionais focados em seu desenvolvimento pessoal, em sua vida em família, pensando mais em si mesmos, em ter qualidade de vida e psíquica, deixando em segundo plano o crescimento profissional e de sua carreira”, diz o CTO.
Encontrar profissionais completos, que busquem cada vez mais o conhecimento e que tenham iniciativa de entregar algo diferente e se especializar, está cada vez mais difícil. “E muitas vezes, quando encontramos um profissional com essa postura, geralmente ele já está empregado e é necessário fazer uma proposta maior para que ele troque de empresa”, explica.
O estudo da LiveCareer, realizado com profissionais de diferentes idades, incluindo as gerações Z, Y e X, confirma o que o CTO percebe em seu dia a dia. Segundo a pesquisa, a Geração Z valoriza mais a qualidade de vida do que gerações anteriores. Além disso, muitos consideram que os ganhos financeiros de cargos de liderança não compensam o estresse cotidiano. Em resumo, as novas gerações buscam equilíbrio, flexibilidade e bem-estar, priorizando não apenas o sucesso profissional, mas também a realização pessoal e a qualidade de vida.
Em um cenário ideal, o equilíbrio entre pessoal e profissional aparece como o melhor dos dois mundos. Muitas são as possibilidades para quem pensa em investir na área e se especializar, dentre elas, Gustavo cita profissionais especializados em áreas que estão em alta como a cloud pública e os desenvolvedores. “Se destacarão aqueles profissionais que conseguem unir o conhecimento especializado das novas tecnologias ao seu desenvolvimento, sem deixar de lado um conhecimento mais amplo do mercado, incluindo diferentes formas de programação e linguagens, como também de competências em outras frentes, como idiomas, certificações, maturidade emocional e etc.”, pontua.
Segundo o Chat GPT, uma profissão que ainda não existe, mas que pode surgir em breve devido ao avanço da tecnologia, é a do Especialista em Ética de Inteligência Artificial. “À medida que a IA se torna mais integrada em todos os aspectos da sociedade, surgirá uma necessidade crescente de profissionais capazes de navegar pelas complexidades éticas relacionadas ao seu desenvolvimento e aplicação. Esses especialistas têm entre suas competências: garantir que as tecnologias de IA sejam desenvolvidas e implementadas de maneira ética, considerando questões como privacidade, viés algorítmico, direitos digitais e o impacto no emprego e na sociedade como um todo”, relata Gustavo.
Inclusão feminina
Apesar das inúmeras possibilidades, um dos maiores desafios do mercado de trabalho TIC, ainda é promover a inclusão feminina. A participação delas nesse mercado tem crescido, mas ainda está longe de alcançar a tão sonhada equidade de gênero.
Segundo o Relatório de Diversidade no Setor TIC da Brasscom, apesar do número de mulheres no Brasil ser superior ao de homens, chegando a 51% da população, a participação feminina na área de tecnologia é de apenas 39%. Quando se fala das mulheres negras, a situação ainda é pior. Elas são 32% das alunas de cursos da área de computação, revelando um grande interesse pela área. No entanto, são apenas 3% entre os líderes nas empresas.
É uma questão global, em 2023, apenas 73 mulheres negras foram promovidas a diretoras para cada 100 homens, em comparação com 82 em 2022, conforme a pesquisa Women in the Workplace 2023. A pesquisa da Lean In e McKinsey & Company foi realizada com mais de 27.000 funcionários e 270 líderes seniores de RH, na América corporativa e no Canadá.
“O ingresso das mulheres no mercado TIC é um tema de extrema relevância, acredito que a predominância masculina na formação em cursos e universidades de TI é um dos principais fatores que contribuem para a baixa representação feminina neste mercado. Essa disparidade é influenciada pela falta de modelos femininos de sucesso na área, cultura e ambiente universitário percebidos como predominantemente masculinos, e falta de incentivo e apoio específico para mulheres”, enumera Kellen Nery, professora do Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da UNISUAM.
A docente acredita que para abordar essa questão, é fundamental promover modelos femininos de sucesso na área, como criar ambientes educacionais inclusivos e desenvolver programas de apoio e mentoria direcionados para mulheres interessadas em carreiras em TIC.
Ela também cita pesquisas e estudos que analisam a competência das mulheres na área de tecnologia da informação em comparação com os homens. E nelas, a diversidade de pensamento é destacada, mostrando que equipes diversas, incluindo gênero, tendem a ser mais inovadoras e eficazes, com as mulheres trazendo perspectivas únicas e abordagens diferentes para resolver problemas.
“Suas habilidades interpessoais, como comunicação eficaz e inteligência emocional, são reconhecidas como valiosas, especialmente em equipes colaborativas. Além disso, as mulheres demonstram capacidades distintas na resolução de problemas, adotando abordagens colaborativas e holísticas, e exibem habilidades de liderança transformadora, promovendo uma cultura de inclusão e inovação. Sua capacidade de adaptação à mudança e aprendizado contínuo também é destacada como essencial para o sucesso na área, contribuindo para a resiliência e inovação das equipes em um ambiente em constante evolução”, detalha.
Embora a porcentagem de mulheres no mercado TIC ainda seja relativamente baixa, a docente acredita que a sociedade não está indiferente à questão. Uma prova disso é o reconhecimento crescente da importância de se criar um ambiente mais inclusivo e diversificado.
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