Carreira

Mulheres representam apenas 20% dos empregos especializados em Ciência e Tecnologia no Brasil

Ciência e Tecnologia (C&T) é um setor crucial para a economia do conhecimento em termos de produtividade e como um gerador de empregos de qualidade. Apesar de sua crescente importância na agenda global e do fato de os países que possuem massa crítica desses conhecimentos se especializarem em setores dinâmicos e competitivos, C&T está entre os setores com menor participação feminina no mundo, principalmente na América Latina.

 

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Segundo o documento “Mulheres na ciência e tecnologia: como derrubar as paredes de cristal na América Latina”, dos programas de Proteção Social e Desenvolvimento Econômico do CIPPEC, na Argentina, Brasil e México, do total de pessoas empregadas em setores relacionados a C&T (que têm empregos de melhor qualidade e salários acima da média da economia) apenas cerca de um terço são mulheres. A proporção é ainda mais baixa se falarmos de trabalhadores com habilidades em C&T que também realizam tarefas relacionadas: desses casos, as mulheres nesses três países representam menos de um quarto do total.

“Essa sub-representação responde a um problema multidimensional. As barreiras que as mulheres enfrentam começam desde muito cedo e vão surgindo ao longo da sua formação e carreira profissional”, explica Paula Szenkman, uma das coautoras do documento.

Aproximadamente um em cada 10 dólares produzidos no Brasil, Argentina e México vem de C&T. No Brasil e na Argentina, esse setor representa cerca de 22% das exportações, enquanto no México chega a 70%. Além disso, o valor agregado por trabalhador em C&T é mais que o dobro da economia como um todo no Brasil, enquanto na Argentina e no México, quase duplica. Isso se reflete na renda dos trabalhadores do setor, que ganham em média entre 24% (México) e 65% (Brasil) a mais do que os empregados na economia como um todo.

Embora as mulheres sejam maioria entre os que frequentam cursos universitários nos três países em análise, sua participação é reduzida nas áreas de C&T. Essa menor participação é acentuada no ambiente de trabalho. Enquanto as mulheres são 34% dos graduados em C&T no Brasil, 40% na Argentina e 31% no México, elas são apenas 20% dos empregados em C&T no Brasil, 24% na Argentina e 20% no México.

Porcentagem de mulheres por graduação e grau técnico (Brasil e México 2019, Argentina 2017)

O setor de C&T tem grande potencial de transformação e geração de empregos de qualidade para trabalhadores de diferentes níveis de qualificação. Embora empregue uma proporção maior de trabalhadores altamente qualificados do que o resto da economia, também emprega trabalhadores com nível educacional médio e baixo. “Garantir a participação das mulheres na ciência e tecnologia é uma oportunidade crucial para evitar o aumento das lacunas existentes. Além de melhorar as condições de vida das mulheres, contribuiria para mitigar a reprodução intergeracional da pobreza e promover o crescimento econômico inclusivo”, diz Szenkman.

Distribuição dos trabalhadores nos setores de C&T de acordo com o nível educacional (1º trimestre de 2020)

“Procuramos promover consensos entre os atores dos setores privado, público, sindical, educacional e da sociedade civil e contribuir com propostas de políticas para uma abordagem abrangente que ataque todas as barreiras”, diz Szenkman. O documento detalha que a estratégia deve incluir políticas educacionais e de formação profissional com perspectiva de gênero para facilitar o acesso das mulheres ao mercado de trabalho; políticas culturais para quebrar preconceitos e estereótipos de gênero em empresas e instituições; e políticas para conseguir uma melhor conciliação entre trabalho e vida familiar e promover a promoção de mulheres a cargos de liderança. Além disso, é necessário fornecer informação pública de qualidade de forma sistemática e fortalecer e coordenar os esforços do setor privado com a esfera pública.

Mais sobre “Mulheres na ciência e tecnologia: como derrubar paredes de cristal na América Latina”

Elaborado por Paula Szenkman, Estefanía Lotitto e Sofía Alberro, este novo documento do CIPPEC faz parte de um projeto liderado pelo programa de Proteção Social com apoio da Salesforce que busca quantificar e tornar visíveis as lacunas de gênero nos setores de ciência e tecnologia (C&T) e os obstáculos enfrentados por mulheres na Argentina, Brasil e México em suas trajetórias.

“É urgente que os setores público, privado e a sociedade civil se unam para realizar um plano de ação que resolva de uma vez por todas a falta de participação das mulheres na ciência e tecnologia. O diagnóstico e a orientação que o CIPPEC oferece por meio desse trabalho constitui um ponto de partida imbatível para executar ações que promovam maior igualdade no setor”, enfatiza Fernando Antunes Lopes, Gerente de Relacionamento com Governo da Salesforce Brasil.

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