Em toda a América Latina, persiste o desafio de ampliar a infraestrutura para as telecomunicações, de modo a expandir a cobertura de sinal e superar a lacuna digital que afeta grande parte da população da região, incluindo o Brasil. Segundo o estudo “A gestão da infraestrutura de telecomunicações como um pilar fundamental para o futuro da América Latina, para promover o melhor uso dessas infraestruturas”, é necessário utilizar os recursos tecnológicos e os investimentos disponíveis do setor de modo inteligente e eficiente “com o objetivo principal de conectar os desconectados e possibilitar a transformação digital das empresas”, diz o documento. O relatório pode ser encontrado no site da Abrintel (Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações).
O estudo – que foi realizado pela SMC+, empresa de estratégia de tecnologia e relações públicas digitais com foco na América Latina, a pedido da American Tower, empresa associada da Abrintel – recomenda que haja incentivos e facilitação do compartilhamento de infraestruturas passivas de suporte para telecom como uma das formas de melhor utilização dessa estrutura.
Compartilhamento é o uso mútuo de uma mesma infraestrutura por diferentes equipamentos de transmissão de sinal. Assim, por exemplo, uma mesma torre pode ser utilizada por diferentes tecnologias (3G, 4G ou 5G) de diferentes empresas operadoras de internet ou telefonia.
“O compartilhamento de infraestrutura passiva é cada vez mais importante para dar continuidade às implantações da rede 4G e para tornar economicamente viável a implantação da rede 5G na região, que exigirá uma alta densificação para sustentar e fornecer o nível de serviço que a tecnologia oferece”, afirma o documento. “O compartilhamento contribui para que o investimento de diferentes operadoras móveis se traduza em uma cobertura mais eficiente dos serviços e atenda às necessidades de conectividade da população”, diz ainda o estudo.
“A redução das despesas de capital e das despesas operacionais resultantes do uso compartilhado da infraestrutura daria às operadoras móveis a oportunidade de usar seus recursos de forma mais eficiente, o que permitiria reduzir as tarifas de telecomunicações cobradas de seus assinantes.”
Outras vantagens do compartilhamento apontadas pelo estudo são: implantação mais ampla e rápida de cobertura em regiões geográficas novas e mal atendidas; fortalecimento da concorrência; redução do número de sites; diminuição do gasto de energia e da pegada de carbono das redes móveis; além de redução do impacto ambiental e visual.
O levantamento traz ainda outras recomendações para ampliar a cobertura de infraestrutura: que haja maior coordenação entre órgãos federais e municipais, com processos padronizados; a implementação de um processo de aprovação automática de novas infraestruturas; a existência de um processo acelerado para a implementação de infraestruturas menores; e a conscientização de autoridades, da população e da mídia para a necessidade de expansão da infraestrutura de telecom.
O estudo constata que a capacidade de investimentos do setor é restrita. “Há uma grande pressão sobre as margens de lucro das operadoras”, diz o documento. “Os negócios da rede 5G ainda não estão claros, já que exigem investimentos em dólares, quando o fluxo de fundos está em moedas locais. Há também normas e taxas que não ajudam a reduzir a carga regulatória”, prossegue o levantamento.
“O cenário atual é desafiador para os investimentos em infraestruturas de telecomunicações no Brasil e na América Latina, o que requer a máxima eficiência na aplicação dos recursos”, afirma também o presidente da Abrintel, Luciano Stutz, que destaca a importância do compartilhamento para o uso mais eficiente dos equipamentos. “O compartilhamento promove a utilização mais eficiente da infraestrutura, o que se torna ainda mais fundamental nesse contexto, como foi feito, por exemplo, durante a implementação para a cobertura obrigatória do 5G, quando foram utilizadas infraestruturas em que já estavam instalados equipamentos do 4G”, lembra Stutz.
“Quando se opta pela construção de novas infraestruturas de telecom de grande porte em uma área próxima a equipamentos já existentes, por exemplo, isso se traduz em desperdício de recursos que são limitados e que poderiam estar sendo aplicados na construção de infraestruturas em áreas onde ainda há necessidade de nova cobertura de sinal”, comenta ainda o presidente da Abrintel, lembrando da necessidade de aumento da cobertura em várias regiões do país.
Levantamentos realizados pelo Movimento ANTENE-SE, liderado pela Abrintel, indicaram que diversas cidades em todo o Brasil, como Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia e Manaus, tinham diferença significativa na relação entre o número de habitantes e a quantidade de infraestrutura entre zonas centrais e as periferias mais pobres. Em várias regiões dessas capitais, o número de infraestruturas de telecom se mostrava aquém do desejável. Segundo documentos emitidos pela Anatel e pelo Ministério das Comunicações, que compara essa taxa entre países, nos EUA há 837 habitantes por antena, uma referência de país continental, como o Brasil.
Entretanto, o mapa abaixo, de 2023, indica que a média de usuários por infraestrutura está acima de 1.000 em todas as capitais do país. Como resultado, um grande número de pessoas compartilha o sinal de uma mesma infraestrutura, o que gera condições ruins de conectividade.
O estudo da SMC+ estima que o número de infraestruturas para telecomunicações de grande porte no Brasil passará das 68 mil, registradas em 2022, para 79 mil em 2027, e 88 mil em 2032, (170 mil somando-se as de pequeno porte). “É fundamental que esses novos equipamentos de grande porte estejam em áreas que hoje são as chamadas ´zonas de sombra´, ou seja, regiões sem cobertura de sinal, em especial as periferias mais pobres e que possam ser compartilhadas para seu melhor aproveitamento”, diz Stutz. Clique aqui para ter acesso ao resumo do estudo.