Sondagem com presidentes, diretores de negócios e executivos de RH mostra como as empresas enfrentaram a crise e os planos para a retomada em 2010.
Foco nos resultados e nas pessoas, confiança, automotivação e resiliência foram as competências críticas mais demandadas das lideranças corporativas para enfrentar a crise financeira mundial. É o que demonstram os dados da sondagem Termômetro XXI – Competências e Desafios para a Gestão de Talentos no Brasil e na América Latina, realizada pela Passarelli Consultores e pela INAC – Executive Search Worldwide, no final de 2009.
O levantamento, que envolveu cerca de 40 presidentes de empresas, diretores de negócios e executivos de RH, aponta para o crescimento da importância das operações latinoamericanas nos próximos três anos, com destaque especial para as subsidiárias brasileiras.
“A crise colocou o Brasil em evidência, aumentando sua atratividade como plataforma de crescimento para multinacionais das mais diversas origens, que hoje enfrentam sérias dificuldades em outras partes do mundo, notadamente na União Européia e nos Estados Unidos”, afirma Laís Passarelli, sócia-diretora da Passarelli Consultores.
“É possível vislumbrar que, no futuro próximo, o Brasil desempenhará papel ainda mais relevante dentro das estruturas latinoamericanas, constituindo campo fértil para a implantação de novos projetos. O estudo mostra, por exemplo, que em 2010 as contratações estarão fortemente vinculadas a essas iniciativas, o que denota boas oportunidades de carreira para os executivos do país”, avalia Alexandre Sabbag, sócio da Passarelli Consultores.
Reflexos da crise
Os reflexos da crise foram vividos de maneira distinta por empresas de vários segmentos, Entre os profissionais ouvidos no estudo, 44% afirmaram ter sentido o primeiro impacto já nos últimos meses de 2008, registrando o pior momento no trimestre seguinte. Um outro grupo, que representa 28% dos participantes, percorreu o caminho com um “delay” de um trimestre, ou seja, conheceu o impacto inicial entre janeiro e março de 2009, passando pelo pior momento entre abril e junho. Quanto ao início da retomada, há uma expressiva concentração (54%) no terceiro trimestre do ano.
Para quase 80% dos entrevistados, a crise foi menos intensa ou se manteve dentro dos parâmetros inicialmente previstos. Apenas 13% a consideraram mais intensa do que o projetado, enquanto 8% disseram que a crise foi irrelevante para suas organizações.
Entre os fatores mais afetados estão os resultados financeiros e as metas de curto prazo, seguidos de perto pelo planejamento de médio e longo prazo. O turn over de executivos foi considerado normal por quase 65% dos participantes, muito embora as operações brasileiras também tenham sido obrigadas a cortar pessoas e despesas, ainda que apresentassem um bom desempenho dentro de suas corporações.
Diante do questionamento sobre a crise ter sido usada como pretexto para a dispensa de profissionais de baixo desempenho, 41% disseram discordar totalmente da afirmação, contra 5% que concordam plenamente. Um contingente de 49% optou por respostas que apontam para uma parcial concordância ou discordância.
Fazedores X Idealizadores
Mais de 53% acreditam que a necessidade de ser mais eficiente apontou novas oportunidades para a empresa e seu time. Foco no resultado e no cliente, liderança e comunicação interna são fatores que ganharam importância com a crise. Os colaboradores tiveram de ampliar consideravelmente o grau de resiliência, e foram instados a aumentar a capacidade de ser flexível.
“A crise reforçou a expectativa sobre os líderes quanto a exercer de fato a liderança de seu negócio e equipe, buscando a motivação das pessoas com determinação ainda maior do que antes”, acredita Alexandre Sabbag. “O perfil daqueles que superam as barreiras naturalmente exigiu mais resiliência do que visão de futuro, uma vez que a atenção esteve centrada na sobrevivência e na ação de curto prazo”, complementa, ressaltando que, nesse contexto, os “fazedores” se sobrepuseram aos “idealizadores”.
A postergação de projetos foi a principal medida a afetar as operações latinoamericanas durante a crise, seguida de perto pela revisão das estruturas como medida complementar no enfrentamento das turbulências. “A previsão é a de que, nos próximos três anos, essas operações adquiram maior relevância dentro de suas corporações, com perspectivas otimistas especialmente para o Brasil”, observa Laís.
A pesquisa aponta que, com a crise, projetos relacionados a clientes e novos negócios tiveram primazia sobre temas ligados a pessoas e inovação. A demanda foi por uma forte revisão do modelo operacional do negócio, com foco em redução de custos e otimização de recursos, tudo para maximizar a geração de caixa de forma a sobrepor as dificuldades e fazer frente a eventuais oportunidades de negócios. Manter a saúde econômica e financeira foi a preocupação primordial das lideranças.
Nas questões abertas sobre os desafios que a crise trouxe para a empresa e para o executivo, esses aspectos foram evidenciados. Como líder, o participante mostrou-se prioritariamente focado nos assuntos corporativos, em suas competências como executivo e na gestão da equipe e das pessoas. Aparentemente, não se preocupou de forma direta com a sua carreira, concentrando esforços no desempenho de suas atividades na companhia.