Fábrica com máquinas capazes de se comunicar sozinhas e produzir produtos personalizados sem intervenção humana vira realidade em feira.
A primeira edição da Feira Internacional de Máquinas e Equipamentos (FEIMEC), que ocorre ao longo desta semana na cidade de São Paulo, traz como foco a Manufatura Avançada, termo para a indústria de nova geração que é capaz de produzir produtos personalizados totalmente sozinha, a partir de robôs e equipamentos que se favorecem da Internet das Coisas (IoT). A feira é promovida pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq) e conta com a demonstração de uma pequena linha de montagem baseada na Manufatura Avançada.
Feira traz ao Brasil primeira linha de montagem que trabalha sozinha
Conhecida na Alemanha como Indústria 4.0, a Manufatura Avançada pode ser traduzida como a 4ª Revolução Industrial. Carlos Pastoriza, presidente do Conselho de Administração da Abimaq, explica que, enquanto a primeira revolução foi a criação do motor a vapor, a segunda do motor elétrico e a terceira da autonomia das máquinas, esta será a revolução em que os equipamentos se conversam e conseguem entregar produtos personalizados sozinhos. A vantagem dessa nova indústria é o aumento de produtividade e a possibilidade de fabricar produtos personalizados em larga escala, a partir da completa automatização do parque fabril.
Segundo ele, a Manufatura Avançada ainda não é realidade no mundo, tendo alguns pequenos casos na Alemanha. “O mundo todo deverá se atualizar junto e o que é uma oportunidade para o Brasil dar um salto tecnológico”, diz Pastoriza. “Isso porque a média de idade do parque fabril brasileiro é de 17 anos, enquanto o alemão tem apenas oito.”
Para acelerar a implantação da Manufatura Avançada no Brasil, um grupo de trabalho formado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), BNDES, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Abimaq, produziu um projeto chamado Modermaq, uma espécie de Finame para a subsidiar a atualização do parque industrial das empresas.
“O empresário teria um crédito fiscal que, após atualizar sua indústria, ele teria descontos em impostos federais”, explica Pastoriza. Apesar de bem aceito pela presidente Dilma Rousseff em 2014, quando foi apresentado, o projeto foi engavetado. “O Modermaq envolve incentivo fiscal, termo que virou palavrão no governo. Esperamos que, com a retomada da economia, o projeto volte à discussão.”
Demonstração de fábrica inteligente custou R$ 5 milhões
Resultado da união de 22 empresas, entre elas, ABB, Siemens, Kuka, Festo, Autodesk, e contando com o apoio de diferentes instituições, como Instituto Mauá de Tecnologia e Senai, o demo contou com o investimento de R$ 5 milhões e é capaz de produzir 250 unidades por dia de um porta-lápis e porta-celular personalizado e feito sob medida para o tamanho do smartphone do visitante da feira, que pode conferir o produto pronto em questão de minutos.
Confira aqui o processo de fabricação do porta-celular e porta-lápis
João Alfredo Delgado, diretor executivo de Tecnologia da Abimaq, diz que todo o investimento do projeto foi dividido entre as empresas, que forneceram funcionários totalmente dedicados ao demo, e de órgão públicos, como o BNDES e DesenvolveSP, que injetaram capital. “A demonstração é a primeira a ser feita no mundo e surgiu da vontade da Abimaq em mostrar que o Brasil pode alcançar e acompanhar o mesmo nível das indústrias dos países desenvolvidos”, afirma.
A demonstração da linha de montagem apresentou erros durante a primeira execução. De acordo com Delgado, durante o processo de limpeza da área, antes da abertura da feira, uma escada cortou a comunicação entre os equipamentos. Como os robôs são programados para realizar tarefas repetitivas, qualquer mudança de cenário já paralisa toda a linha de montagem. Após os ajustes da equipe técnica, a “fábrica” operou normalmente. “Apesar do erro, consideramos que a demonstração está sendo um sucesso. Estamos mostrando que é possível trazer a Manufatura Avançada para a realidade”, afirma Delgado.