*Por Luís Augusto Schüler
Quando falamos de tecnologia e o seu papel na inovação de ecossistemas complexos como o da saúde, não podemos restringi-la ao viés de digitalização dos processos e procedimentos. Afinal, tão importante quanto sua capacidade de conferir avanços como agilidade e democratização dos serviços, é a sua missão de garantir que esses avanços ocorram com segurança.
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Recentemente, tivemos a oportunidade de ver essas duas facetas caminhando juntas de maneira exemplar em um movimento coordenado de digitalização promovido pela Alemanha.
No início deste ano, a implantação da prescrição eletrônica passou a ser obrigatória no país, ainda que com alguma tolerância em casos de razões técnicas excepcionais, cuja liberação da receita em papel sirva a um interesse maior.
O principal objetivo desta medida foi, mais do que garantir que as informações estivessem digitalizadas, se certificar de que elas pudessem compor um banco de dados único, acessível aos diferentes agentes envolvidos no cuidado com os cidadãos.
A partir dessa digitalização, médicos de diferentes especialidades, instituições de saúde e farmacêuticos clínicos (que atuam nestas instituições) passaram a poder, a partir da autorização dos pacientes, acessar seus históricos a fim de serem mais assertivos na avaliação dos tratamentos, medicamentos mais indicados e interações medicamentosas, bem como de evitar erros que poderiam ser causados por desinformação.
Pode ter passado despercebido em meio à listagem dos benefícios médicos que pontuei acerca do movimento alemão, mas a frase ‘a partir da autorização dos pacientes’ está no cerne do que quero salientar neste artigo.
Isso porque ela demandou, em sua implementação, um aparato tecnológico robusto voltado a resguardar a privacidade dos dados dos cidadãos.
Dados foram protegidos via criptografia e hardwares de segurança
Para evitar que os dados coletados pelos diferentes agentes de saúde pudessem cair em mãos indesejadas comprometendo a segurança dos cidadãos ou, ainda mais sutil, serem distribuídos de boa fé entre diferentes players sem a autorização destes, o governo alemão estabeleceu duas camadas de segurança:
- As prescrições eletrônicas teriam de ser obrigatoriamente criptografadas.
- Instituições de saúde passaram a precisar usar hardwares de segurança certificados pelo Estado, bem como cartões de identificação específicos para poderem acessar os dados do servidor unificado
Junto desses dois elementos fundamentais, os alemães ainda desenharam um sistema de opt-out a partir do qual os cidadãos pudessem restringir novamente o acesso e o compartilhamento dos seus dados depois de uma liberação inicial.
Implantação com segurança impede que supostos avanços sejam, na verdade, retrocessos. Toda inovação precisa ser tratada com responsabilidade. Quando falamos de saúde e sistema financeiro, então, essa responsabilidade acaba sendo dobrada.
Nesses casos, qualquer erro de cálculo ou qualquer ausência de um mecanismo necessário pode não apenas tirar a credibilidade de uma instituição, mas, pior que isso, prejudicar vidas e comunidades inteiras.
Avanço e responsabilidade: essa é a meta, e a tecnologia é meio para alcançá-la em ambos os pilares. *Luís Augusto Schüler é diretor de Produtos e Tecnologia da Unicred.
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