Cabe às companhias de telecomunicações se tornarem mais que apenas provedores de conectividade. As sobreviventes serão apenas as que estiverem atentas às evoluções e necessidades sociais locais.
*Por José Felipe Ruppenthal
O último século foi marcado pela evolução das telecomunicações. E o aprimoramento das tecnologias relacionadas a esta área está diretamente ligado ao desenvolvimento das diferentes gerações no mundo todo. Por um lado, nossos pais e avós, durante a infância e a adolescência, sequer imaginavam a possibilidade de um dia lidar com um telefone celular. Do outro, futuramente, nossos filhos e netos vão crescer sem saber o que é, ou como lidar, com um telefone fixo.
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Tal mudança, ainda que radical, mostrou-se necessária não somente para evolução, mas para a sobrevivência da sociedade. E embora o processo de desenvolvimento das telecomunicações tenha acontecido mais tardiamente no Brasil, quando comparado a outros países mais desenvolvidos, ainda é possível observar um imenso avanço histórico.
A denominada Geração Silenciosa, constituída por pessoas nascidas entre 1925 e 1945, já pôde acompanhar o início desse avanço no país com a popularização do rádio, que permaneceu como principal meio de comunicação em massa até a chegada da televisão no início da Geração Baby Boomers, em 1950. Observava-se, nesse momento, a força da comunicação em massa no país, ainda que o telefone fixo, reforçando a comunicação interpessoal, já estivesse começando a aparecer. Somente após o início da chegada da geração X, em 1972, é que a telefonia fixa se torna mais acessível à população brasileira. Isso, devido à criação da Telebrás (Telecomunicação Brasileiras S.A.) com a incumbência de centralizar, padronizar e modernizar as diversas concessionárias de serviços públicos que existiam no Brasil.
E é com a chegada do telefone móvel, popularmente celebrado como celular, que uma nova era começa a ser vivenciada. A Geração Y, assim como eu, já cresce em um cenário no qual a internet passa pelo seu auge de velocidade e o país se vê na necessidade de regulamentação desta área. Por consequência, cria-se, em 5 de novembro de 1997, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) originada por meio da Lei geral de telecomunicações (Lei 9.472, de 16 de julho de 1997) que caracteriza os pilares da privatização do setor, definindo as obrigações das operadoras em relação à prestação deste serviço.
Desde então, discussões constantes vêm acontecendo entre as empresas de telecomunicações para que todas as gerações, por meio da inclusão digital, possam acompanhar a evolução do direito de conexão e das questões relacionadas às bandas de internet no Brasil, passando pela licitação da banda B em 1998 até a mais recente, referente à faixa de frequência para a operação do 5G.
A Geração Alpha, portanto, vivencia um futuro que nossos antepassados nem imaginavam a possibilidade de concretização e, para acompanhar essa crescente, hiper escaladores, provedores de cabo, integradores de serviços e relacionados estão buscando conquistar participação de mercado em jogadas que os mantenham relevantes. O usuário, por sua vez, tem como necessidade latente dois princípios básicos: a segurança, priorizando a proteção de seus dados e informações sensíveis; e a velocidade, considerando cada vez mais a importância da otimização do tempo.
Na segurança, com a grande quantidade de dispositivos, métodos de conexão e abundância de dados, as possibilidades de violação cibernética também aumentam exponencialmente. Por isso, é preciso incorporar medidas de segurança em todo e qualquer processo de uma rede, seja ela física ou digital, de banda larga e 5G, levando em consideração desde o servidor até às novas gerações de consumidores finais.
Para a velocidade, em uma realidade na qual é possível assistir uma série por meio de um serviço de streaming e, simultaneamente, participar de uma partida de algum jogo multiplayer online ou trabalhar em um documento de acesso compartilhado, é preciso saber administrar o alcance e a capacidade para melhor atender o consumidor.
As gerações atuais vão poder acompanhar um novo boom nos próximos anos. Até 2030 devemos chegar na marca de 29 bilhões de dispositivos IoT conectados com mais de 5 bilhões de usuários 5G. A crescente adoção das tecnologias emergentes com o uso de realidade aumentada, virtual e mista, vai aumentar o volume de tráfego via rede móvel a curto prazo. De acordo com uma pesquisa da GSMA (Inteligence Network Transformation Survey), na América Latina, podemos quadriplicar este valor até 2028. Levando essa movimentação esperada em consideração, as empresas precisam se manter estáveis para dar suporte a este volume e conciliar o 5G e o 6G.
O ponto de virada já é uma realidade e cabe às companhias de telecomunicações se tornarem mais que apenas provedores de conectividade. As sobreviventes serão apenas as que estiverem atentas às evoluções e necessidades sociais locais. Caso este momento não seja aproveitado, muitas entrarão em extinção. Um exemplo claro disso, afinal, é a telefonia fixa. Atualmente, são raras as residências que ainda utilizam este serviço e as empresas que se prenderam a ele caíram em desuso.
Em pouco mais de 50 anos, presenciamos uma evolução surpreendente do setor. Estou ansioso para ver o que nos aguarda nas próximas décadas.*José Felipe Ruppenthal é Consultor de Redes de Nova Geração na Kyndryl Brasil.
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