
Uma das sequelas da COVID-19 ainda pouco debatida pelo mercado é o distanciamento digital. E isto sob vários ângulos: faixa etária; renda familiar, regiões etc. Em visita ao Brasil, Matthew Smith, diretor de relacionamento com o investidor da Amdocs, um estudioso no assunto, ressaltou que este é um problema global, que vem recebendo a atenção de governos e da iniciativa privada, na tentativa de minimizar não só o agravamento de dificuldades econômicas, como evitar a ampliação da falta de mão de obra especializada em tecnologia e, por outro lado, a dos excluídos digitais.
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Usando os Estados Unidos como exemplo, Smith ressalta que a exclusão digital não é algo novo, mas é um abismo que foi acentuado pela pandemia. Ele lembra que o isolamento das pessoas provocou a aceleração digital e evidenciou a necessidade de conexão. “Olhando os EUA, havia crianças que não tinham banda larga de boa qualidade, por estarem em áreas rurais, e não tinham equipamentos. Mas não era só a infraestrutura e os aplicativos que faltavam, as crianças não sabiam como usar a tecnologia. Então não dava para simplesmente chegar a uma pessoa com um laptop mãos e dizer: ‘Oi, olhe aqui um laptop e um ponto de acesso. Te vejo mais tarde’.
Autor de alguns podcasts sobre o tema, Matt Smith se encontrou com o prefeito de Los Angeles, Eric Garcetti, há um ano, quando conheceu o projeto da cidade de fornecer equipamentos e conexão para a população em comunidades com serviço de baixa qualidade de telecomunicações. E identificou que parcerias entre o poder público, a iniciativa privada e o setor de tecnologia, tem sido uma tendência na tentativa de reduzir o gap digital.
“Também me encontrei com Jeff Luong, chefe de banda larga da AT&T. O trabalho dele é eliminar a exclusão digital. Ele implementou as iniciativas para conectar comunidades indígenas e carentes nos Estados Unidos. Estive com a doutora Kiesha King, uma moça fascinante, maravilhosa, carismática, em Las Vegas. Na T-Mobile, ela criou uma iniciativa na área de educação, para que a operadora busque ser ativa em garantir que as pessoas tenham acesso às tecnologias mais recentes nas escolas”, conta, citando também o contato com Mike Irizarry, da US Cellular, operadora que mantém um programa que disponibiliza pontos de acesso para a comunidade. “Acho que quando os provedores de serviços dão um passo à frente, todo mundo vai junto”, pontua.
Matt Smith recomenda que legisladores e governos locais se aproximem das empresas de tecnologia tanto para popularizar a conectividade, quanto para antever eventuais problemas que as novas tecnologias podem gerar e corrigir a exclusão digital.
Novamente, usando os EUA com exemplo, o executivo cita a Communications Decency Act, Section 230, lei de 1996, como uma legislação que não previu os impactos negativos das redes sociais. “Este ambiente está sendo usado por governos nefastos autoritários contra sua própria gente e contra outros países com a proliferação de informações falsas, para causar todo tipo de problemas”, destaca. “Os governos precisam estar envolvidos 100%, é preciso trabalhar em conjunto em tudo o que estamos vendo surgir em tecnologia para prever problemas sociais, sem impor obstáculos na adoção”, reforça.
Umas destas tecnologias, na visão de Matt Smith, é o metaverso. “Esta é uma tecnologia que tem potencial de lançar problemas sobre os quais nós precisamos começar a pensar agora. “Quais leis se aplicam no Metaverso?”, questiona.
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