Segundo Henrique de Campos Jr, o País tem um grande potencial para se desenvolver no mercado da Indústria do Entretenimento Móvel, entretanto necessita que sejam observadas as muitas dificuldades da convergência dos dois setores, telefonia celular e entretenimento.
A oferta de conteúdo digital via telefonia móvel, a chamada Indústria do Entretenimento Móvel (IEM) – composta por empresas de mídia tradicionais, por empresas de telecomunicação e por empresas que se dedicam exclusivamente ao entretenimento móvel – ainda está em formação no Brasil, assim como no resto do mundo, onde é uma nova indústria em constante mudança.
O País tem um grande potencial para se desenvolver nesse mercado, entretanto necessita que sejam observadas as muitas dificuldades da convergência dos dois setores, telefonia celular e entretenimento. Um dos principais entraves hoje para esse avanço está na consolidação de um "modelo de negócios".
Na IEM, por exemplo, o modelo de venda de Internet móvel – por tráfego de dados – é diferente do modelo de Internet residencial – por assinatura mensal. No caso de produtos inovadores que não se enquadrem a modelos de negócio pré-existentes, os gestores devem buscar alternativas de comercialização, ou a "arquitetura de receita", para transformar uma oportunidade de negócios em lucro. A falha nesse processo pode resultar em perda de receita para os envolvidos e significa a redução de atratividade potencial do negócio no longo prazo.
As operadoras de telefonia móvel, os agentes mais poderosos da rede de valor, podem ser consideradas verdadeiras porteiras de acesso aos interessados em atuar na IEM no Brasil. Elas detêm o contato com os usuários finais e, conseqüentemente, grande poder de negociação frente a seus fornecedores, principalmente com empresas menores de geração de conteúdo de entretenimento móvel.
Ao mesmo tempo, as grandes indústrias geradoras de conteúdo, que sofrem no Brasil com a forte presença de pirataria e desrespeito a direitos autorais – como as grandes gravadoras de música -, vêem na telefonia celular um ambiente relativamente mais seguro do que outros canais de distribuição de conteúdos digitais, permitindo o desenvolvimento dos negócios e surgimento de novos produtos.
Um problema que a indústria de telecomunicações pode enfrentar é assumir que os modelos de venda de comodities, bem sucedidos no negócio de voz, possam ser adotados sem alterações para a venda de produtos de entretenimento móvel.
Na IEM brasileira, a receita é partilhada entre os agentes através de porcentagens pré-acordadas, definidas caso a caso dependendo do potencial de venda do conteúdo avaliado. O relacionamento dentro da rede de valor é baseado nos fluxos de informação, promoção e negociação. A forma como cada empresa afeta esses três fluxos define os percentuais das vendas recebidos por cada uma delas.
As formas de comercialização de conteúdos móveis no Brasil são muito similares às européias. Entretanto, a principal referência mundial é o modelo japonês, chamado de i-mode, que entrega cerca de 90% das receitas aos produtores de conteúdos e não exerce o controle sobre a base de clientes. O controle exercido pelas operadoras brasileiras, denominado de "walled garden" ("jardim murado"), é um sistema fechado, no qual os usuários não podem mudar de portal ou acessar conteúdos além dos oferecidos por elas; buscando controlar a base de clientes e as parcerias, em favor de uma suposta fidelização, limitando as receitas e o acesso de diversos parceiros.
A IEM tem potencial de ser muito mais do que um novo canal para a disseminação de conteúdo criativo gerado por outras indústrias, desta forma abrindo espaço para o surgimento de uma cadeia de valor alternativa com oportunidades para o aparecimento de novas empresas e empreendedores. Por ser uma indústria baseada na criatividade e cultura de todos os envolvidos no processo produtivo, mesmo empresas menores e de países em desenvolvimento, como o Brasil, têm condições de explorá-la.
*Henrique de Campos Jr. é gerente de Market & Business Intelligence da Marco Consultora