Economia Digital

A participação social na inclusão de IA na Declaração de Líderes do G20

Combination of human and artificial intelligence. In the new digital age, people will also change and become digital. There will even be an artificial human generation.

O documento chancelado pelos chefes de Estado reafirma princípios éticos fundamentais como transparência algorítmica, explicabilidade, não discriminação, privacidade e proteção de dados, refletindo diretamente o acúmulo dos debates e dos insumos gerados dos espaços de participação, como o G20 Social, o L20 e outros grupos de trabalho do G20 como o GT de Economia Digital e o Grupo de Trabalho e Emprego do G20, por exemplo.

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Esses espaços trouxeram perspectivas de atores diversos sobre as potencialidades, riscos e desafios da IA, e seu respectivo impacto em áreas como a saúde, educação, meio ambiente, mundo do trabalho e, sobretudo em aspectos relacionados à integridade da informação nos meios digitais e à percepção de realidade em campos de inovação instigantes como a neurotecnologia.

A IA na Declaração de Líderes do G20

O texto da Declaração de Líderes do G20 enfatiza que o progresso da IA traz grandes oportunidades para o desenvolvimento no marco da economia digital e que, ao mesmo tempo, a tecnologia exige uma abordagem responsável para garantir sua implementação ética e centrada no ser humano.

Além disso, o documento destaca a importância de estabelecer salvaguardas à observância dos direitos humanos, promovendo uma governança da IA que considere elementos como os vieses algorítmicos, a necessidade de supervisão humana e a regulação adequada e sintonizada com aplicação dos princípios elencados pela Recomendação da UNESCO sobre a Ética da IA e da Declaração de Princípios de Direitos Humanos no âmbito da Inteligência Artificial do MERCOSUL, que se apresentam como guias e instrumentos de referência sobre como alinhar o desenvolvimento tecnológico aos valores humanos.

Ao mesmo tempo, a Declaração reconhece que a integração da IA nos ambientes de trabalho deve ser mediada por processos de diálogo social e negociação coletiva, ressaltando a importância de incluir os trabalhadores no desenho das soluções tecnológicas e no monitoramento dos seus impactos nas condições de trabalho. Nesse sentido, também faz menção às políticas de formação, capacitação e requalificação com base em conceitos como a formação de competências e a aprendizagem permanente.

Outro ponto de destaque é o compromisso de promover uma IA responsável e inclusiva voltada para os setores de educação e saúde, e que contribua para a redução das brechas digitais com recorte de gênero e étnico raciais, especialmente nos países em desenvolvimento, inserida no paradigma da interação humano-algoritmo.

Combate à Desinformação e Integridade da Informação

A Declaração abordou a integridade da informação nos meios digitais e o combate à desinformação, especialmente em temas críticos como mudanças climáticas. Juntamente ao avanço obtido no instrumento, foi lançada a Iniciativa Global para a Integridade da Informação sobre Mudança do Clima para enfrentar esses desafios, destacando a transparência e a responsabilidade das plataformas digitais. Essa ação, que conta com a participação da ONU e da UNESCO, reflete a necessidade de ecossistemas informativos saudáveis, que respeitem a privacidade, protejam dados e promovam o fluxo confiável de informações.

A disseminação de informações falsas, especialmente em temas sensíveis como mudanças climáticas, representa um desafio crescente em um contexto amplamente influenciado pela IA e pelas plataformas digitais. A iniciativa lançada no marco do G20 busca não apenas responsabilizar as plataformas digitais, mas também promover a cooperação internacional para regulamentar o ambiente informativo, protegendo os direitos de acesso a informações confiáveis.

A Participação Social na Inserção de Temas de IA

A inclusão de questões como ética na IA e diálogo social na Declaração de Líderes foi diretamente influenciada pelas contribuições dos grupos de engajamento do G20. O G20 Social, em particular, desempenhou um papel fundamental ao trazer perspectivas diversas e ao conectar os debates globais com as realidades locais. Um exemplo foi o debate sobre o impacto da Inteligência Artificial proposto pelo Conselho Nacional dos Direitos Humanos do Brasil (CNDH). A atividade contou com a participação de movimentos sociais, entidades da sociedade civil, academia, governos e organismos internacionais.

Durante o evento, organizado paralelamente ao encontro oficial dos líderes, movimentos sociais, organizações sindicais e instituições acadêmicas apresentaram análises e recomendações sobre o impacto da IA nos direitos humanos, no mundo do trabalho e também no fortalecimento da integridade da informação nos meios digitais.

O L20, grupo que reúne sindicatos globais, também teve uma contribuição destacada. Esse espaço enfatizou a urgência de proteger os direitos dos trabalhadores em um ambiente cada vez mais digitalizado, defendendo que tecnologias emergentes como a IA sejam utilizadas para promover trabalho digno e inclusão social.

Propostas concretas foram discutidas, como diretrizes para o uso ético e seguro da IA no local de trabalho, que eventualmente foram incorporadas ao texto da Declaração, mostrando a relevância do diálogo social para a formulação de políticas globais.

A relevância das contribuições oriundas da participação social se apoia em experiências históricas em eventos de grande porte, como as Cúpulas Sociais do Mercosul, que trouxeram uma abordagem colaborativa para a construção de políticas regionais, a Cúpula dos Povos na Rio +20, que ampliou o debate sobre justiça social e sustentabilidade e o Fórum Social Mundial que, no início dos anos 2000, congregou a comunidade internacional em busca de um outro mundo possível.

Esses precedentes reforçam a importância de abrir espaços institucionais para a sociedade civil, garantindo que suas vozes sejam ouvidas em fóruns internacionais.

O Diálogo Social e os Princípios da IA Responsável

A Declaração de Líderes do G20 reconheceu que a integração bem-sucedida de tecnologias emergentes nos locais de trabalho depende de processos participativos e inclusivos. O diálogo social foi destacado como uma ferramenta essencial para assegurar que a sociedade tenha voz ativa na introdução de novas tecnologias. Isso é especialmente relevante no contexto da IA, que transforma profundamente as relações sociais em temas como segurança pública, trabalho e emprego, meio ambiente, saúde e educação, comunicação, entre outros, levantando questões sobre a garantia de direitos e princípios fundamentais.

Os princípios de transparência algorítmica e explicabilidade, reafirmados na Declaração, são essenciais para mitigar riscos associados à discriminação e à opacidade dos sistemas de IA. Esses pontos deverão influenciar as regulações nacionais dos países que integram o G20. Além disso, a priorização de valores como privacidade e proteção de dados reflete o compromisso do G20 em alinhar o desenvolvimento tecnológico aos direitos humanos, fortalecendo a confiança no uso de tecnologias digitais.

O Futuro da Governança da IA no G20

O G20 de 2024, liderado pelo Brasil, estabeleceu precedentes importantes para o futuro da governança internacional da Inteligência Artificial. A integração de princípios éticos vinculados à afirmação dos direitos humanos reflete o impacto da participação social e do diálogo multissetorial. A Declaração de Líderes demonstrou que uma governança responsável e centrada no ser humano é possível quando os interesses da sociedade civil e dos movimentos sociais são incorporados aos processos decisórios.

O fortalecimento da cooperação internacional e a inclusão de países em desenvolvimento são essenciais para garantir que os benefícios da IA sejam amplamente compartilhados e que os riscos sejam mitigados de forma equitativa. O G20 seguirá como espaço de diálogo e articulação para avançar nessa agenda, e a continuidade de mecanismos de engajamento como o G20 Social e o L20 será fundamental para assegurar que a voz da sociedade permaneça no centro das decisões dos foros internacionais.

Os avanços alcançados em 2024 deverão servir de base para novas discussões e iniciativas no âmbito da presidência sul-africana prevista para 2025, buscando fortalecer a governança ética e responsável da IA, alinhada aos direitos humanos e às necessidades de um mundo em acelerada transformação. *Conteúdo G20 Brasil.

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