Ponto de Vista

Há mais coisas entre o céu e a terra que sua filosofia possa imaginar

Áreas de IC que estão focadas na entrega de relatórios e pensam pouco em serem facilitadores: cuidado! É o que diz Fernando de Almeida, da ADVS/Academy of CI.

O que significam as informações que coleto?

Sua área de IC vai a campo, coleta um conjunto de informações, organiza estas informações, analisa-as cuidadosamente. Se é uma área delicada e esforçada – claro que é – tira conclusões, gera um ou mais comunicados, relatórios, informa os tomadores de decisão sobre as informações e sobre as análises e conclusão que tirou. Se as informações coletadas geram dúvida ou necessidade de mais informação, sua área vai a campo buscar mais dados. Sua área tem uma rede de informação. Você quer entender melhor. Você quer ajudar a empresa a entender melhor.

Mas sua área assumiu que existe um significado verdadeiro nas informações coletadas. E que o que você está fazendo é tentar entender essa verdade.

Sua área assume que se for suficientemente dedicada e esforçada, acessar esta verdade é só uma questão de ir a fundo e você irá encontrá-la.

Sua área está buscando fatos. Em seguida tenta ver o que conclui destes fatos. Esses fatos espelham para você uma verdade? Você traça curvas de tendências. Mas na verdade, os fatos são transformados por quem os observa. É o que conclui Argyris. Segundo Argyris, uma informação que um indivíduo recebe é filtrada (interesses pessoais, valores individuais, contexto externo). Então, segundo Argyris, o individuo assume um sentido. Seu. Em seguida cria uma história.

É ruim ter uma história criada pela área de IC, como resultado de seu trabalho?  Penso que não. Ajuda na interpretação dos fatos pelo tomador de decisão. Pode ser que induza. E não necessariamente é ruim, mas pode não ser bom. O ruim é criar uma área de Inteligência que se vê como fonte de inteligência do mercado, do ambiente competitivo. Mas não é essa a função da área de inteligência? Entregar inteligência? É como muitos dizem. Tenho conhecimento de áreas que desapareceram por pensar assim. Criaram igrejas que se isolaram dos tomadores de decisão e o que geravam não interessava a ninguém.

Nietzsche diz que não há verdade, que ela depende das forças de poder que agem no subterrâneo. Então não é ruim ter uma história criada pela área de inteligência, porque é assim que ela cria sua interpretação dos fatos e não tem como ser diferente, pois sua interpretação depende de seus interesses, valores, fatores externos, história das pessoas que lá atuam, experiências, etc.

O que é ruim é achar que a área não criou esta história e irá contá-la como verdade para o seu diretor, gestor, tomador de decisão. Entregando inteligência através de relatórios. “Uma área de IC não deve ser responsável pela geração de todos os relatórios que se gera na empresa”.

Então qual o papel da área de inteligência? Gerir processos que transformam informação em perpectivas sobre o ambiente competitivo. Gerir processos. Não buscar informação para entregar perspectivas. Muito menos entregar verdades. E quem tem que ter perspectivas é quem as usa, isto é o tomador de decisão. Uma área de IC deve possibilitar, facilitar a criação de percepções, perspectivas a respeito do mundo lá fora para que os gestores possam tomar decisões baseadas no seu entendimento dos fatos. Baseadas nas suas perspectiva que serão criadas a respeito do mundo lá fora. A área de IC pode e deve debater sobre estas perspectivas com o tomador de decisão. Fará mais sentido para o tomador de decisão a perspectiva que ele próprio cria com auxílio da área de IC do que uma que já vem pronta em forma de relatório ou apresentação da área de IC.

É como dizia um responsável de IC de um grande laboratório farmacêutico. Sua equipe passou semanas coletando dados e fazendo análises para responder ao CEO da empresa se deveriam entrar no ramo de um certo tipo de remédio. A recomendação da área de IC foi não entrar no ramo. Relatório consistente. O board se reuniu e decidiram entrar.  Depois o CEO voltou para a área de IC e perguntou se deveriam adquirir uma empresa. De novo a área de IC fez sua recomendação. Não deviam comprar uma empresa. O board decidiu comprar. Ou seja, a perspectiva da área de IC não era a perspectiva do CEO ou do board. Mais teria contribuído se a área tivesse atuado como facilitadora no processo de interpretação das informações que levassem a uma ou outra conclusão. Diga-se de passagem, a dita área de IC nem ficou sabendo porque a decisão contrária foi tomada. Não participava do processo de decisão. Não como tomadora de decisão que não é seu papel. Mas também não como facilitadoras do processo de interpretação.

Então áreas de IC que estão muito focadas em entregar relatórios de inteligência e pensam pouco em serem os animadores do processo, facilitadores: cuidado. Podem acabar falando sozinhas. Gerando inteligência que ninguém entende ou reconhece como útil.

*Fernando de Almeida responsável pela Fuld, Gilad, Herring Academy of CI no Brasil, número 1 nos EUA em cursos em Inteligência Competitiva. Fundador da ADVS Brasil (www.advsbrasil.com.br), associada à ADVS França, voltada a consultoria e pesquisa em Inteligência Competitiva e Estratégia. É coordenador do MBA Inteligência Estratégica da Fipe

 

 

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