
Com o mercado dinâmico como o atual, uma empresa vai ter mais chances de sucesso o quanto antes compreender as mudanças e mais rápido responder ao mercado. Estaria então o futuro da IC baseado em redes?
“Uma coisa é bastante clara para mim: assim como nasce muita Inteligência nas empresas, a mortalidade dessas áreas também tem um índice alto”. A afirmação de Fernando Domingues Jr, sócio-diretor da Mentor Consulting e professor do curso de MBA Monitoramento Competitivo e Estratégico da FIA, leva às perguntas: o ciclo de IM funciona sempre? E o que de fato está sendo praticado nas empresas?
Essas e outras questões foram respondidas pelo especialista durante o Scip Latin America Competitive Intelligence Summit, evento realizado pela Scip e pelo IBC em São Paulo.
Em sua apresentação, Domingues Jr. explicou que, em essência, no ciclo de Inteligência Competitiva o profissional identifica necessidades; coleta evidências; qualifica informações; analisa; documenta e dissemina, sendo a análise o coração de todo o processo de Inteligência.
“No entanto, quem está na área sabe que existem muitas dificuldades para realizar o ciclo”, afirmou o especialista, citando alguns exemplos: “não é fácil obter dos decisores a revelação do que realmente lhe tira o sono; a maioria dos trabalhos de inteligência é feito com informações secundárias, ainda são poucas as áreas que fazem uma rede com fontes primárias; às vezes a área nem analisa a veracidade dos dados; e poucos analistas dominam sua ferramenta de trabalho, ou seja, os métodos de análise”.
Outro problema apontado por Domingues Jr. é que geralmente a análise é feita por apenas uma pessoa. “Por mais que o analista seja ótimo, a análise feita apenas por uma pessoa sempre terá pontos cegos e será, portanto, parcial”, defende. Uma falha da área também discutida pelo especialista foi a constatação, feita na pesquisa da Scip, que a maioria dos profissionais entrega o seu trabalho por email. “Que valor ou relevância tem a sua inteligência se você a entrega por email?”, questiona.
Hoje, cada dia está mais fácil e mais rápido obter informações, e a quantidade de dados cresce copiosamente. Em contrapartida, o tempo para responder ao decisor é menor. “Com isto, abre-se mão da análise, que é o principal no processo de Inteligência”, diz o especialista. “Entregar planilha de Excel ou relatório não é entregar Inteligência. Temos de nos colocar de igual para igual com o decisor, nosso trabalho ser parte da estratégia, ou nosso trabalho não tem valor”, acrescenta.
Análise, um processo coletivo
Para Domingues Jr, análise depende de conhecimento. “Quanto mais conhecimento, maior o poder analítico. Mas ninguém sabe tudo; análise é feita em processo coletivo, e quanto mais compartilhada, melhor é feita. E esse compartilhamento tem que envolver o decisor”, explica. Isto porque, com a hierarquia empresarial, o decisor não sabe a realidade do que acontece no campo.
De acordo com o especialista, com um mercado dinâmico como o atual, uma empresa vai ter mais sucesso o quanto antes compreender as mudanças e mais rápido responder ao mercado. “Então, será que o futuro está baseado em decisões em rede? Eu acho que este é um caminho, porque quem está no campo tem informação, e precisa, portanto, ter integração com o decisor”, argumenta Domingues Jr. “Mas isso é uma coisa que só vai crescer se debatermos, afinal, não existe receita de bolo pronto para Inteligência”, finaliza.