Análise Setorial

O que esperar de 2010?

Para especialista, a melhora dos balanços em 2009 deverá não só corroborar o atual patamar da Bovespa, como garantirá mais um ano de alta na Bolsa.

Depois do susto de 2008 e do excelente desempenho da Bolsa em 2009, o que esperar do comportamento da Bovespa no ano de 2010? Vou tentar responder essa pergunta em partes.

Primeiro, é muito difícil termos em 2010 uma alta da Bolsa maior do que a verificada em 2009, ainda que as perspectivas sejam positivas. Boa parte da alta deste ano foi explicada pelos preços extremamente deprimidos das ações no final de 2008. Na época, houve uma busca desenfreada por liquidez, sobretudo por parte dos bancos mundiais que precisaram fazer caixa para honrar as perdas provenientes do setor de crédito. A queda das ações também acabou acionando os mecanismos de stop loss dos fundos e o resultado foi uma baixa generalizada dos ativos para níveis, praticamente, irracionais.

No momento em que o desespero começou a se dissipar, com o afastamento do medo de uma quebradeira bancária em todo o mundo, os investidores passaram a distinguir os fundamentos das economias e correram para aproveitar as barganhas do mercado acionário. Concomitantemente, as políticas fiscais e monetárias, adotadas para amenizar a crise, começaram a surtir efeito e países com baixo nível de crédito e bom potencial de crescimento, como o Brasil, passaram a ser os principais destinos de investimentos. O resultado desta combinação levou a Bovespa a encostar em seus níveis máximos neste final de ano.

Na parte macroeconômica, o ano foi marcado pela recuperação. Depois de a economia brasileira ter entrado numa breve recessão no início do ano, a expansão do PIB registrada nos trimestres que se seguiram deve permitir que a economia brasileira encerre 2009 próxima à estabilidade. Já as expectativas para 2010 apontam para um crescimento superior a 5%, o que deve ser determinante para uma nova alta da Bolsa no ano que vem.

Os efeitos das crises econômicas são, em sua maioria, malignos, mas momentos como estes servem para aumentar a eficiência das empresas e, em alguns casos, excluir as companhias ineficientes do mercado. No momento seguinte, quando as coisas voltam a melhorar, as empresas sobreviventes podem colher os frutos dos ajustes promovidos, gerando resultados ainda mais robustos que antes.

Por esse motivo, sigo otimista com a Bovespa em 2010. A excelente performance da economia brasileira, a expansão do crédito e a melhora da eficiência das empresas devem permitir expansão dos resultados das companhias que souberam tirar proveito da crise. A melhora dos balanços deverá não só corroborar o atual patamar da Bovespa, como garantirá mais um ano de alta na Bolsa.

Riscos
O recente default de Dubai serve para nos lembrar que, apesar do desempenho da economia nacional e da Bovespa, passamos por uma das crises mais severas do capitalismo e que deve deixar sequelas na economia mundial.

O gasto público das economias centrais explodiu, aumentando muito o endividamento dos governos. O que torna insustentável o prolongamento por muito mais tempo das medidas de incentivos econômicos. Assim, o maior perigo do ano que vem será a reação das economias centrais após a retirada dos incentivos e de uma possível elevação das taxas de juros. Essas medidas podem estancar a atual recuperação da atividade, levando os mercados a novas baixas.

Em 2010, também teremos eleições presidenciais, que podem trazer alguma volatilidade na cotação das ações. Entretanto, após o governo Lula, o risco político da vitória de um presidente que promova algum tipo de ruptura diminuiu muito. Como nos outros anos, a disputa deve polarizar-se entre a Dilma e o Serra. O atual governador de São Paulo tem a preferência do mercado e tem sido apontado como o favorito. Mas, tomando pelas recentes medidas de incentivo econômico e pelo viés populista do governo Lula, o Partido dos Trabalhadores vai jogar pesado para se manter no poder.

Em suma, se o mundo não atrapalhar muito, temos tudo para que o próximo ano seja de mais alegrias na Bolsa!!!

*José Góes é analista e economista da WinTrade, Home Broker da Alpes Corretora
 

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