É bem provável que qualquer acadêmico que tenha estudado as noções da administração empresarial já tenha se deparado com a questão da divergência semântica entre dados e informações. Enquanto os primeiros resumem-se meramente a símbolos (números, medidas, valores), os segundos são resultado da interpretação de determinado conjunto de dados.
Uma vez estabelecida esta divergência inicial, ganha-se subsídio bastante para refletirmos sobre as estratégias reveladas por detrás dos sistemas de TI que as empresas de menor porte costumam adotar. De um modo geral, o que se tem observado ultimamente é um mercado tomado pela informatização de processos, quase todos vinculados a um sistema de TI, mas que não sabe se valer dos dados que produz. Em tempo, não sabe transformar dado em informação.
A explicação para este fenômeno, presente em 90% das PMEs (pequenas e médias empresas), talvez esteja na falsa premissa de que sistemas de BI (business intelligence) têm sua razão de ser apenas em grandes companhias ou multinacionais, até pelo rótulo de caros que carregam consigo.
Entretanto, é preciso desmistificar essa crença de que adquirir um sistema analítico significa necessariamente investir em complexas ferramentas de gestão, como se a um pequeno empresário não restasse alternativa além dos sistemas operacionais, excelentes na produção de dados estatísticos, mas que são incapazes de gerar o cruzamento sinérgico entre eles.
Um sistema de TI, independente do porte da empresa, pode ser concebido com a inteligência suficiente para gerar análises com base em dados históricos, servindo de alicerce para a formação de estratégias e tomadas de decisão. Para tanto, ele deve contemplar três níveis de programação: o operacional, o gerencial e o estratégico.
Para fins elucidativos, peguemos como exemplo um supermercado de bairro. Uma simples venda é um dado operacional. Já a quantidade de vendas geradas no dia, ou na semana, tem caráter gerencial. Agora fazer o cruzamento de dados e descobrir que o consumidor que compra biscoito de chocolate é o mesmo que compra chiclete de hortelã, equivale a produzir uma informação estratégica, sobre a qual é possível criar promoções de venda. Por mais primária que esta medida possa parecer, sua aplicação ainda se restringe a uma reduzida parcela do mercado PME.
Diante disso, fica evidente a vantagem que um pequeno empresário leva sobre seus concorrentes ao contratar desenvolvedores de sistemas que embutem em seu serviços uma espécie de consultoria para seus negócios, como forma de garantir maior firmeza e segurança nos processos decisórios.
A prática mercadológica, no entanto, demonstra que são poucos desenvolvedores que têm esta capacidade de enxergar o melhor sistema sob a ótica negocial do seu cliente, o que acaba resultando na entrega de aplicativos, cujas funções são estrategicamente limitadas.
O cenário corporativo atual forçosamente nos impinge a perceber a importância de uma visão ampla e holística que um administrador deve ter sobre seus negócios, reunindo condições de cobrir eventuais falhas e carências de cada departamento. Neste sentido, optar por sistemas analíticos estrategicamente desenvolvidos para atender às necessidades de uma organização é fator determinante para arrebanhar clientes e alcançar uma posição de destaque em face da brutal concorrência.
* Flávio Luis Piccolo Ferrer é sócio-diretor da GDR7, empresa desenvolvedora de sistemas de TI.