De acordo com números da IDC Brasil, 100 mil postos de trabalhos na indústria de tecnologia não foram ocupados em 2018. O déficit, segundo a consultoria, é resultado da falta de instituições para formar mão de obra capacitada e a demanda acaba sendo maior que a oferta. Mesmo empresas sediadas em Campinas (SP), cidade que conta com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e um Instituto Federal (IFSP) especializado em tecnologia, não conseguem contratar pessoal em tempo hábil.
Professor da FGV analisa o impacto da tecnologia no mercado de trabalho
O Venturus, instituição sem fins lucrativos especializada em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, por exemplo, abriu 40 vagas em razão de um novo trabalho há dois meses, mas ainda restam quatro vagas abertas. Outras empresas também relatam dificuldade na hora contratar na região, tanto por falta de mão de obra capacitada quanto pela concorrência de outras empresas.
As vagas mais difíceis de se preencher no Venturus são por profissionais de desenvolvimento, principalmente os especializados em Java, diz Cynthia Pedroso, gerente de RH da empresa. Na CI&T, multinacional especializada em transformação digital cuja sede fica em Campinas, também procura pelos mesmos perfis de profissionais, o que explica a concorrência.
Além da concorrência, Cynthia também ressalta o problema de encontrar profissionais bem formados que se adequem à cultura da empresa. São, em média, de 20 a 30 vagas abertas na instituição por mês, sendo a maioria efetivas. Por isso, a empresa prefere procurar profissionais mais jovens, de forma que a adotar a ideologia do Venturus se torne mais fácil, o que pode levar a meses para ocupar as vagas.
Mais uma vez, a estratégia bate de frente com a CI&T, empresa que contratou 650 pessoas em todos os seus escritórios só em 2018, sendo a maioria em Campinas. De acordo com Marília Honório, gerente de Pessoas da CI&T, a companhia busca por “talentos que se identificam com a nossa cultura. Entusiasmo, respeito ao próximo, criatividade, combinação do conhecimento técnico com a vontade de fazer acontecer e entrega com excelência são fatores fundamentais”.
Já na Padtec, fabricante de equipamentos para redes ópticas, a procura por profissionais é diferente, visto que estamos falando de profissões mais restritas. A empresa, que abriu 160 vagas nos últimos dois anos, também identifica problemas na hora de contratar por causa da concorrência.
Como as empresas contratam?
Para lidar com esse problema, as empresas recorrem a outros locais para contratar. A Sensedia, especialista em integração de APIs, tenta atrair profissionais de outras regiões para Campinas. Daniela Domingues, líder de Pessoas da Sensedia, chega a comentar que, dos três escritórios que a empresa tem (outro em São Paulo), o do Rio de Janeiro é o mais fácil de contratar, já que a concorrência é menor.
Na Padtec, o raio de contratação vai da região de Campinas até o sul do Brasil, onde a empresa acredita que encontrar profissionais para seu ramo tecnológico é mais fácil. Mas, como a empresa tem atuação nacional com suporte técnico e prestação de serviços, também procuram em todas as regiões e estados.
Para vagas mais especialistas e críticas, as empresas preferem oferecer para seu público interno, buscando dar oportunidades aqueles que já trabalham e conhecem a empresa. Por isso, as quatro empresas entrevistadas realizam programas de capacitação interna, cabendo aqui ressaltar a Academia Jedi, da Sensedia, e o You Global, da CI&T.
No primeiro, a empresa seleciona pessoal para treinar determinadas capacidades técnicas junto com seus colegas mais experientes, compartilhando experiências. Já o You Global foi uma iniciativa do escritório de Belo Horizonte da CI&T realizado no segundo semestre de 2018, que teve como objetivo formar equipes especialistas em tecnologias voltadas a projetos de clientes no exterior, especialmente para os mercados europeu e norte-americano.