Modelo adotado para levar acesso à Internet a regiões carentes não é eficiente e consultoria aponta que o mercado tradicional, se estimulado por governos, pode ser a solução.
Uma nova análise da GSMA, consultoria especializada no setor de telecomunicações, mostra que o modelo wholesale open-access network (WOAN, na sigla em inglês), que pode ser traduzido como a venda por atacado de uma rede de acesso aberto, tem vacilado em sua implantação e, em alguns países, falhado completamente.
Projeto de lei obriga operadoras a garantir sinal nas estradas
Operadoras defendem TACs para levar banda larga a regiões afastadas
O WOAN foi um modelo desenvolvido para atender áreas onde não há acesso à banda larga por falta de interesse do mercado, motivados pela distância, pouca densidade populacional e baixo desenvolvimento financeiro. Neste modelo, o governo, seja municipal, estadual ou federal, constrói a infraestrutura de fibra óptica e aluga para diversos provedores de Internet (ISPs), com essas empresas compartilhando a mesma rede para atender e disputar clientes, que contarão com melhor cobertura de banda e, com base na concorrência, preços mais acessíveis.
Em seu estudo, a GSMA examinou como isso estava ocorrendo no Quênia, México, Rússia, Ruanda e África do Sul. Nos cinco países, apenas a Ruanda estava com a rede completa, sendo que todos os outros estavam com suas infraestruturas atrasadas ou canceladas, um reflexo de que a iniciativa tem uma progressão lenta.
No México, por exemplo, uma implementação ambiciosa de uma rede pública compartilhada para acesso de banda larga e serviços de telecomunicações móveis deveria começar em 2014 e estar operacional até 2018 – uma proposta financiada pelo governo que atraiu 21 provedores qualificados.
Diante dos custos crescentes, os reguladores reduziram o objetivo do investimento de US$ 10 bilhões para US $ 7 bilhões e o número estimado de torres de celulares para 12 mil em vez de 20 mil. Todos os licitantes abandonaram o projeto, com exceção do consórcio Altán, que terá acesso a 90 MHz de espectro contíguo na banda de 700 MHz para construir a rede LTE por atacado e operar um verdadeiro monopólio.
Para a GSMA, a pesquisa mostra que o modelo WOAN não é o indicado para popularizar o 4G, ao contrário do que desejavam os apoiadores desta política. Segundo a consultoria, a concorrência tradicional do mercado produz uma cobertura de rede mais rápida e extensiva, enquanto os exemplos destacados no relatório indicam que há poucas evidências de que o WOAN consiga isso.
Em Ruanda, a rede LTE do país foi lançada como previsto no final de 2014 na capital Kigali, uma parceria público-privada entre o governo e a operadora sul-coreana KT. No entanto, a partir de julho de 2016, a rede estava disponível apenas em 25 dos 30 distritos planejados, com cobertura populacional estimada em cerca de 30%. O progresso atual em termos de cobertura sugere que é improvável que o objetivo de cobertura original de 95% seja alcançado até o final de 2017, diz a GSMA.
Outro problema é a aceitação dos consumidores, que parece ser limitada até agora, graças ao custo dos serviços. As negociações comerciais estabelecem os preços de atacado, que são revisados duas vezes por ano. Ao longo da recente vida da rede, houve várias reduções significativas nos preços, constatou a GSMA, mas estas não se traduziram em preços de varejo mais baixos de forma consistente.
A GSMA reconhece que tanto o setor privado quanto o público têm papéis importantes a desempenhar na melhoria da cobertura da rede móvel para os desatendidos, em todo o mundo. O relatório esboçou o fato de que alguns operadores já estão buscando maneiras de equilibrar a concorrência com a cooperação no investimento em infraestrutura.
De acordo com a GSMA, um melhor caminho a seguir incluirá acesso econômico ao espectro de baixa frequência e suporte para a reorganização de espectro; acordos de infraestrutura voluntária; eliminação de tributação específica do setor para operadores, fornecedores e consumidores; acesso não discriminatório a infraestrutura pública; entre outras iniciativas.
A consultoria também se mostra preocupada com o fato de que uma mudança para redes de atacado prejudicar os consumidores, já que a história mostra que os monopólios de rede normalmente resultam em preços elevados e menor investimento em infraestrutura. O aconselhamento da GSMA é de que os governos que acreditam no WOAN apoiem a capacidade das operadoras móveis entrarem em acordos de compartilhamento de infraestrutura de forma voluntária, ao invés disso.