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O advento da tecnologia coloca o cheque em xeque? Entenda

*Por Fabricio Visibeli

“Com o advento do PIX, o cheque vai desaparecer.” Esta frase tem ecoado repetidamente nos últimos dois anos, acompanhada de previsões sobre o fim do dinheiro em espécie e até mesmo dos cartões de crédito, todos desafiados pelo surgimento de novas tecnologias. No entanto, assim como foi um avanço disruptivo ao surgir em 1760, impulsionando o comércio globalmente, o cheque enfrenta agora uma nova era de mudanças.

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Os bancos ingleses aperfeiçoaram a ideia das letras de câmbio à vista, instituindo o uso do cheque como o conhecemos, incluindo sua numeração em série para evitar falsificações. Embora o primeiro cheque tenha sido emitido pelo Banco da Inglaterra em 1660, no valor de 400 libras – e assinado pelo comerciante Nicholas Vanacker – seu uso ainda não era generalizado. No entanto, foi apenas em 1845 que o cheque chegou ao Brasil, trazido pelo Banco Comercial da Bahia, inicialmente denominado como “cautela”.

O uso de cheques cresceu consideravelmente com a estabilização da economia brasileira, atingindo seu ápice em 1995, com mais de 3,3 bilhões de cheques emitidos. No entanto, a modernização do sistema financeiro e a diversificação das modalidades de transação gradualmente reduziram sua utilização, com menos de 2,0 bilhões de cheques emitidos em 2005.

A implantação do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) em 2002 pelo Banco Central trouxe uma estrutura padronizada para o funcionamento dos serviços de pagamento no país, incluindo a Transferência Eletrônica Disponível (TED), uma alternativa mais ágil e segura ao cheque.

Em 2015, com a predominância dos aplicativos em smartphones, apenas 672 milhões de cheques circularam no Brasil, e em 2021, com a maturidade do PIX, foram compensados apenas 219 milhões de cheques. Essa trajetória de declínio ilustra a constante evolução do cenário financeiro e tecnológico.

O surgimento do PIX, como uma plataforma de pagamento instantâneo desenvolvida pelo Banco Central do Brasil, trouxe ainda mais conveniência e eficiência, permitindo transações 24/7, incluindo finais de semana e feriados, algo que os cartões de crédito, embora amplamente utilizados, não conseguem superar em termos de imediatismo e custo.

Além disso, o PIX elimina intermediários nas transações financeiras. Tradicionalmente, os pagamentos com cartão de crédito envolvem várias partes, incluindo bancos emissores, redes de cartões como Visa e MasterCard, e adquirentes de pagamento, cada um tomando uma porção das taxas de transação. Com o PIX, os pagamentos são realizados diretamente entre as partes, potencialmente reduzindo ou eliminando taxas, oferecendo uma alternativa mais barata tanto para consumidores quanto para comerciantes.

Os bancos já estão começando a explorar como podem integrar serviços de crédito e parcelamento diretamente via PIX, o que poderia revolucionar ainda mais o mercado de crédito ao consumidor. Isso permitiria aos consumidores acessar opções de crédito instantâneo no ponto de venda sem a necessidade de um cartão físico, com a possibilidade de parcelamento diretamente através do aplicativo do banco, simplificando o processo e reduzindo custos adicionais associados às taxas de processamento de cartões.

Esta evolução representa uma ameaça significativa para as bandeiras de cartões de crédito, pois os bancos e outros provedores de serviços financeiros podem começar a oferecer seus próprios sistemas de parcelamento e crédito com menos burocracia e custos inferiores, tornando o uso do cartão de crédito menos atraente para os consumidores.

Essa transformação do mercado de pagamentos sugere que o PIX não está apenas substituindo o cheque, mas também desafiando o domínio dos cartões de crédito. À medida que a tecnologia financeira continua a evoluir, as instituições financeiras e os consumidores provavelmente buscarão as opções mais convenientes, seguras e econômicas disponíveis, solidificando o papel do PIX como uma peça central na nova era dos pagamentos digitais.

O ponto alto dessa discussão é que como disse Elis Regina, “o novo sempre vem”, e no contexto dos meios de pagamento, isso se traduz em novos procedimentos, regulações e tecnologias. Manter-se atualizado e buscar parcerias especializadas é essencial para garantir que sua empresa esteja preparada para as mudanças, evitando “receber um cheque que será recusado na compensação”. *Fabricio Visibeli é sócio-diretor na CBYK, desenvolvedora de software e de soluções personalizadas de TI.

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