*Por Matthew Gharegozlou
Décadas após a revolução proporcionada pela robótica, pelas máquinas de controle numérico e pela gestão inteligente de processos de produção, eis que surge no cenário a “Indústria 4.0”, que é como os especialistas estão chamando de a última revolução industrial.
Nessa nova feição da indústria, que abrange áreas como a manufatura, automotivo e transporte, produção de energia, as utilities em geral e setores como o de saúde, o chão de fábrica (ou a estrutura de produção) não é mais o espaço onde exclusivamente ocorre o trabalho pesado. E o mesmo raciocÃnio se aplica aos pátios, armazéns e guindastes de uma zona portuária ou para aos equipamentos médico-hospitalares que guarnecem um grande hospital.
As empresas inovadoras nas mais diversas áreas de produção de bens e serviços estão buscando na Internet Industrial das Coisas (IIoT) a transformação do seu negócio e agregando valores digitais de alto impacto na diversificação, qualidade e custo dos produtos. Todo o conjunto de máquinas e bens de produção adquire, em geral, com a IIoT, um novo aspecto de sutileza e inteligência.
Mas, embora as vantagens (e a necessidade estratégica) dos investimentos em inovação digital industrial já não levantem tantas dúvidas, estes setores ainda precisam enfrentar a questão da interoperabilidade, já que a incompatibilidade do legado com os novos padrões de tecnologia acaba representando um obstáculo à transformação digital.
É este fato que condiciona a adoção de tecnologias agnósticas, em uma arquitetura aberta, como pré condição para se evoluir na direção da IIoT. E o ponto de partida para tanto, está não na retaguarda dos sistemas (estruturas e máquinas fÃsicas que logicamente também precisam ser ajustadas), mas na fase de desenvolvimento das aplicações que irão conduzir a passagem da indústria atual para a indústria 4.0.
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A oportunidade da Internet Industrial das Coisas
A nova revolução industrial envolve o aprofundamento da informatização e da utilização da robótica, agora associando-as aos recursos de métrica inteligente e capacidade analÃtica de dados para maximizar a eficiência, a rentabilidade e a segurança. Lugares comuns à parte, o novo modelo IIoT carrega enorme potencial para gerar dados de negócio articulados que são articulados junto com o chão de fábrica ou a estrutura de produção. Cria-se assim um novo tipo de massa crÃtica que maximiza a capacidade das empresas de otimizar custos, melhorar a prestação de serviços e aumentar as receitas a partir de fontes antes não exploradas.
Estes três pilares de competitividade são o que poderÃamos chamar “a santÃssima trindade” na arena dos negócios.
É nesta trÃade que se sustenta o rápido avanço que a IIoT vem experimentando. De acordo com fontes do mercado, o investimento global em Internet Industrial das Coisas chegará a US$ 500 bilhões até 2020. Estima-se que as empresas que introduzem automação articulada com tecnologias flexÃveis de produção podem aumentar a produtividade em até 30%. Além disso, a manutenção preditiva dos ativos, proporcionada pela introdução do analytics, pode garantir economias de 12% em comparação com reparos programados, além de reduzir os custos gerais de manutenção em até 30% e eliminar as avarias em 70%.
Um bom exemplo de empresa que está no caminho correto de exploração dos potenciais a IIoT é dado pela GMT Europe, desenvolvedora de soluções para o setor de coleta de lixo urbano. Sem exigir uma revolução completa do negócio ou a substituição da estrutura produtiva de seu cliente (uma empresa de coleta de lixo que atua em 20 cidades holandesas), a GMT conseguiu catapultar a eficiência de seu cliente a partir do simples desenvolvimento de uma aplicação móvel de gerenciamento de demandas adaptada ao novo contexto.
Em vez de seguir rotas fixas e recolher caçambas com lixo apenas pela metade, as rotas são agora concebidas de forma dinâmica pelo software, com base em dados históricos e fluxos de dados reais, tais como condições climáticas, congestionamento do tráfego e posição dos caminhões. Ao prever o grau de enchimento das caçambas (que agora podem ser programadas para a coleta quando atingirem pelo menos 80% da capacidade) o aplicativo mostra o fluxo do processo em tempo real, usando dados do GPS, dispositivos inteligentes e etiquetas RFID. Com isto é possÃvel eliminar ineficiências do processo de gestão de resÃduos e economizar 23% em custos para os clientes da GMT Europe.
A interoperabilidade utópica
Uma barreira fundamental que retém a implementação da IIoT é a falta de interoperabilidade entre os dispositivos e máquinas que usam protocolos diferentes e têm diferentes arquiteturas. Embora a teoria da IIoT faça sentido para um ambiente perfeito de negócio, a realidade de conexão entre os sistemas de TI existentes muitas vezes é complexa e cara, uma vez que as tecnologias operacionais hoje trabalham, em grande parte, com base em silos de dados de longa data. E isto sem falar no enorme ciclo de vida dos equipamentos industriais que é um agravante da incompatibilidade.
Assim, a IIoT utópica seria um ecossistema digital totalmente harmônico, com o compartilhamento de dados sem costura entre as máquinas e outros sistemas fÃsicos de diferentes fabricantes. Enquanto isto não é possÃvel, o desenvolvimento da interoperabilidade aberta e de arquiteturas padrão está sendo trabalhado dia a dia, principalmente por meio de entidades sem fins lucrativo, como o Industrial Internet Consortium. Mas as empresas industriais estarão renunciando da vantagem competitiva se elas ficarem simplesmente à espera do cenário perfeito para tomar as medidas necessárias.
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O papel da arquitetura aberta e a resposta das novas web apps
Para contornar o impasse pelo menos em parte e maximizar as oportunidades de exploração da IIoT, empresas como Apple e Google têm proporcionado ecossistemas de dispositivos à disposição da Internet. O problema, porém, é que eles também são ecossistemas fechados que limitam quais os dispositivos e quais tipos de dados podem falar entre si.
Se a Internet Industrial das Coisas surge realmente para trabalhar e impulsionar a inovação no mundo real, ela não pode ser limitada a alguns ecossistemas fechados que estabelecem um controle indesejado sobre a velocidade de evolução técnica e prática da IIoT e seus benefÃcios. Além disso, a maioria das empresas possui dispositivos e sistemas que cobrem mais de um destes ecossistemas fechados.
Consequentemente, o desenvolvimento de arquiteturas abertas para a interoperabilidade máxima no ambiente industrial deve começar não pela retaguarda (estruturas fÃsicas e maquinário), mas pela fase de desenvolvimento de aplicativos da Internet Industrial das Coisas.
A justificativa para a escolha por ecossistemas fechados sempre foi liderada pela maior funcionalidade e desempenho dos aplicativos nativos contra aplicações web. Mas agora é possÃvel construir aplicações web que podem ser usadas no ambiente de trabalho legado e, ao mesmo tempo, nos ambientes iOS e Android.
Com as novas estruturas de tecnologia aberta, como NativeScript e React Native, os desenvolvedores não têm mais que encapsular sua lógica de negócios por trás das plataformas proprietárias dos tais ecossistemas, e estão livres para desenvolver aplicações da Internet Industrial das coisas que irão trabalhar em todos os sistemas e ainda podem compartilhar dados entre todos eles.
Sistemas abertos devem ser sistemas seguros
Uma pesquisa sobre o estado da Internet das coisas, encomendada pelo Progress, revelou que a segurança e a privacidade dos dados permanecem entre os principais desafios para o desenvolvimento de aplicações da Internet das Coisas, especialmente porque há um número crescente de normas regulamentares que eles precisam cumprir. Os desafios de segurança só se tornam maiores devido à s arquiteturas abertas serem mais vulneráveis a riscos de segurança. Mas um sistema aberto não precisa ser um sistema de ‘abertura para ameaças’. O que é necessário é um plano de ação para proteger sistemas abertos sem derrotar o propósito de permitir a colaboração e compartilhamento.
Para evitar o comprometimento dos dados (e os custos financeiros e de reputação que vêm com este comprometimento), os desenvolvedores precisam garantir que seus dados – desde banco de dados inteiros à s tabelas individuais e tudo o que houver entre eles – sejam eficientemente criptografados.
Isto irá permitir a colaboração, eliminando ao mesmo tempo o risco de deixar dados sensÃveis vulneráveis ao acesso não autorizado, e sem impactar o desempenho global do sistema. Outro fator importante é que os desenvolvedores podem obter a flexibilidade de que necessitam e atender aos requisitos de segurança individuais, criptografando aqueles entes do sistema que fato necessitam.
Abertura total
Os cercadinhos de jardim que alguns players estão tentando pôr em prática são, provavelmente, a maior ameaça para a IIoT bem-sucedida. Aqueles competidores industriais querem tirar proveito já do novo modelo e acelerar a sua própria transformação digital para atingir os padrões de negócio de nova geração e suas oportunidades inéditas de mercado e de receita, estes precisarão dar uma olhada mais de perto em tecnologias abertas e seguras que já existem no mercado. Com isso, é começar a inovar com a assimilação da IIoT a partir de hoje mesmo.
*Matthew Gharegozlou é vice-presidente da Progress para a América Latina.